Manejo Pós-Operatório Abdominal

1. Admissão na UTI

  • Avaliação Inicial:
    • Histórico médico, tipo de cirurgia, complicações intraoperatórias.
    • Monitorização contínua: frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória, saturação de oxigênio.
    • Avaliação da dor: Escala numérica (0-10) ou Escala Visual Analógica (EVA).
  • Monitorização Invasiva:
    • Colocação de cateter arterial e venoso central, se necessário.
    • Monitorização da Pressão Arterial Média (PAM) visando manutenção de PAM > 65 mmHg.

2. Controle da Dor e Sedação

  • Avaliação da Dor:
    • Escala numérica (0-10) ou Escala Visual Analógica (EVA).
  • Protocolo Analgésico Multimodal:
    • Opioides:
      • Morfina: 1-2 mg IV a cada 4 horas conforme necessidade (dose máxima: 10 mg/24h).
      • Fentanil: 25-50 mcg IV a cada 1-2 horas conforme necessidade.
    • Analgésicos Não-Opioides:
      • Paracetamol: 1 g IV a cada 6 horas (dose máxima: 4 g/24h).
      • Dipirona: 1 g IV a cada 6-8 horas (dose máxima: 4 g/24h).
  • Sedação:
    • Propofol: 5-50 mcg/kg/min IV, titulado conforme necessidade.
    • Dexmedetomidina: 0,2-0,7 mcg/kg/h IV, titulado conforme necessidade.

3. Monitorização e Manutenção de Funções Vitais

  • Hemodinâmica:
    • Uso de vasopressores: Noradrenalina 0,01-0,5 mcg/kg/min IV para manutenção de PAM > 65 mmHg.
    • Reavaliação de fluidos: 500-1000 mL de cristaloides (Ringer Lactato ou SF 0,9%) conforme necessidade.
  • Respiração:
    • Ventilação Mecânica: Ajustes conforme gasometria arterial e parâmetros ventilatórios.
    • Oxigenação suplementar para manter SpO2 > 92%.
    • Gasometria arterial inicialmente a cada 6 horas, depois conforme estabilidade clínica.
  • Controle de Líquidos e Eletrólitos:
    • Balanço hídrico rigoroso: Entrada e saída de líquidos monitoradas continuamente.
    • Correção de eletrólitos:
      • Potássio: 10-20 mEq IV, conforme necessidade.
      • Magnésio: 1-2 g IV, conforme necessidade.
      • Cálcio: 1-2 g de gluconato de cálcio IV, conforme necessidade.

4. Profilaxia de Complicações

  • Tromboprofilaxia:
    • Heparina de baixo peso molecular (HBPM): Enoxaparina 40 mg SC 1 vez ao dia.
    • Compressão pneumática intermitente.
  • Profilaxia de Úlcera de Estresse:
    • Inibidores da Bomba de Prótons (IBP):
      • Omeprazol: 40 mg IV 1 vez ao dia.
      • Pantoprazol: 40 mg IV 1 vez ao dia.
  • Profilaxia de Infecções:
    • Antibioticoterapia conforme protocolo da comissão de controle de infecção.
    • Cefazolina: 1-2 g IV a cada 8 horas, ou conforme orientação específica.
  • Controle Glicêmico:
    • Insulina regular em infusão contínua para manter glicemia entre 140-180 mg/dL.
    • Monitorização glicêmica a cada 1-2 horas.

5. Avaliação e Manutenção de Função Gastrointestinal

  • Retorno da Função Gastrointestinal:
    • Avaliação de ruídos intestinais e tolerância à dieta líquida.
    • Procinéticos:
      • Bromoprida: 10 mg IV a cada 8 horas, conforme necessidade.
    • Antieméticos:
      • Ondansetrona: 4 mg IV a cada 8 horas, conforme necessidade.
  • Nutrição:
    • Critérios para Início de Dieta Oral ou Enteral:
      • Presença de ruídos intestinais.
      • Ausência de náuseas e vômitos.
      • Paciente clinicamente estável.
    • Tipos de Dieta:
      • Dieta Líquida Claro:
        • Água, chá, caldo claro, gelatina.
        • Quantidade inicial: 30-50 mL a cada 2 horas.
      • Dieta Líquida Completa:
        • Sucos, caldos engrossados, leite, iogurte.
        • Quantidade inicial: 50-100 mL a cada 2 horas.
      • Dieta Pastosa:
        • Purês, mingaus, sopas espessas.
        • Quantidade inicial: 100-150 mL a cada 3 horas.
      • Dieta Branda:
        • Arroz, frango desfiado, vegetais cozidos.
        • Quantidade inicial: 150-200 mL a cada 3 horas.
    • Nutrição enteral precoce se possível, iniciar com fórmula isotônica em infusão contínua.
    • Nutrição parenteral se enteral não for viável.

6. Reabilitação e Mobilização Precoce

  • Mobilização:
    • Incentivo à mobilização precoce: levantar-se com ajuda no leito e caminhar conforme tolerância.
  • Fisioterapia:
    • Respiratória e motora para prevenção de complicações.

7. Cuidados com Feridas e Drenos

  • Inspeção de Feridas:
    • Inspeção diária da ferida cirúrgica para sinais de infecção (vermelhidão, dor, calor, secreção).
  • Cuidados com Drenos:
    • Monitoramento de débito e aspecto: cor, quantidade, consistência.
    • Manutenção da permeabilidade dos drenos:
      • Dreno de Blake: controle diário, remoção quando débito < 50 mL/24h.
      • Dreno de Penrose: controle diário, manutenção conforme indicação cirúrgica.

8. Febre e Distensão Abdominal

  • Febre:
    • Investigação de focos infecciosos: cultura de sangue, urina, secreções.
    • Controle de temperatura com antitérmicos:
      • Dipirona: 1 g IV a cada 6-8 horas (dose máxima: 4 g/24h).
      • Paracetamol: 1 g IV a cada 6 horas (dose máxima: 4 g/24h).
    • Antibioticoterapia empírica conforme protocolo de infecções.
  • Distensão Abdominal:
    • Avaliação clínica e radiológica (radiografia de abdome).
    • Sondagem nasogástrica se necessário para descompressão.
    • Considerar distúrbios eletrolíticos:
      • Potássio, sódio, cálcio, magnésio.
      • Correção conforme necessidade (por exemplo, Potássio: 10-20 mEq IV, conforme necessidade).
    • Procinéticos:
      • Bromoprida: 10 mg IV a cada 8 horas, conforme necessidade.
    • Tomografia Computadorizada (TC) de Abdome com Contraste:
      • Indicações: Suspeita de complicações intra-abdominais (abscesso, fístula, coleções), sinais de sepse de origem abdominal não explicada, distensão abdominal persistente sem melhora com medidas clínicas.

9. Critérios de Alta da UTI

  • Estabilidade Hemodinâmica:
    • Sem necessidade de suporte vasopressor.
  • Função Respiratória:
    • Adequada sem necessidade de ventilação mecânica invasiva.
  • Controle da Dor:
    • Adequado com analgesia oral.
  • Função Gastrointestinal:
    • Adequada com tolerância à dieta oral.
  • Ausência de Complicações Agudas:
    • Sem sinais de infecção ou outras complicações.