Manutenção do potencial doador de órgãos – adultos

Os aspectos mínimos indispensáveis para a manutenção do potencial doador são:

Temperatura corporal:

  • Manter temperatura central >35˚C, idealmente entre 36 e 37,5˚C;
  • Reverter a hipotermia – aquecer o ambiente, usar mantas térmicas, infundir líquidos aquecidos.

Suporte hemodinâmico:

  • Monitorizar a pressão arterial de forma invasiva;
  • Tratar a HAS relacionada à tempestade simpática;
  • Iniciar drogas anti-hipertensivas endovenosas (nitroprussiato de sódio ou betabloqueadores – preferencialmente esmolol) sempre que PAS >180, PAD > 120 ou PAM >95 mmHg;
  • Manter PAM >65 ou PAS >90 mmHg;
  • Iniciar reposição volêmica com cristalóides se houver hipotensão – (20-30 ml/kg bolus 30-60min);
  • Se não responsivo a volume: Infundir drogas vasoativas (preferencialmente noradrenalina) na dose necessária para atingir a meta da PA;
  • Adequar a reposição volêmica subsequente usando parâmetros dinâmicos (variação da pressão de pulso, elevação das pernas, ecocardiograma). A medida da pressão venosa central pode ser  usada como parâmetro de segurança.
  • Para todos os pacientes com vasopressor, associar vasopressina;
  • Tratar a PCR e as taquiarritmias conforme orientação da American Heart Association (ACLS);
  • Nas bradiarritmias, não utilizar atropina e o uso de marca-passo transcutâneo ou transvenoso pode ser indicado.
  • Se bradicardia, considerar dopamina.
  • Dobutamina pode ser associada caso exista aumento do lactato – Metas: PAM>65mmHg, SvO2>70%, diurese>0,5 ml/Kg/h, clareamento de lactato >10% em 4 h

Suporte ventilatório:

  • Ventilar todos os pacientes utilizando estratégia protetora;
  • Utilizar modo volume ou pressão controlada, com VC de 6 ml/Kg de peso ideal, FiO2 mínima necessária para obter PaO2>90 mmHg na gasometria, pCO2 entre 35 e 45 mmH, PEEP de 8 a 10 cmH2O e Pressão de platô <30 cmH O.

Suporte endocrinometabólico:

  • Manter suporte nutricional enteral de 15 a 30% das necessidades diárias;
  • Suspender a infusão de dieta se houver necessidade de doses elevadas de drogas vasoativas e sinais de hipoperfusão tecidual;
  • Monitorizar a glicemia capilar pelo menos a cada 6 horas – iniciar a infusão de insulina por protocolo se a glicemia for >180 mg/dl – Se insulina em bomba, glicemia a cada 2 horas;
  • Monitorizar diurese visando o diagnóstico precoce de diabetes insipidus – diurese >a 200 ml/h deve ser investigada;
  • Administrar DDAVP (desmopressina) nas doses de 1 a 2 mcg EV em bolus ou 2 puffs intranasal ou sublingual a cada 4 horas até obter diurese menor que 4 ml/kg/h ou <300ml/h. Na ausência de DDAVP, pode-se usar vasopressina;
  • Manter sódio sérico entre 130 e 150 mEq/L – a correção da hipernatremia deve ser feita com solução glicosada a 5% ou solução salina a 0,45%;
  • Manter pH >7,2;
  • Se em uso de DVA, prescrever hidrocortisona 100mg de 8/8h;
  • Infundir metilprednisolona 15 mg/Kg a cada 24 horas – iniciar após fechamento do protocolo e apenas para os potenciais doadores de pulmões;
  • O uso de levotiroxina 300 mcg por via enteral uma vez ao dia é recomendado pela literatura, mas evidências recentes demonstram que sua utilização não traz benefícios na manutenção do potencial doador.

Suporte hematológico:

  • Transfundir hemácias se Hb <7 g/dl para todos os pacientes;
  • Transfundir hemácias para doentes com Hb entre 7 a 10 g/dl se instabilidade hemodinâmica com perfusão tecidual inadequada;
  • Transfundir plaquetas, se sangramento ativo e plaquetopenia < 100.000/mm3, e se alto risco de sangramento com plaquetas inferiores a 50.000/mm3 ou em pré-operatório;
  • Transfundir plasma fresco se RNI >1,5 e alto risco de sangramento, pré-procedimento invasivo ou sangramento ativo;
  • Transfundir crioprecipitado se fibrinogênio < 100 mg/dl associado a alto risco de sangramento, pré-procedimento invasivo ou sangramento ativo.

Aspectos infecciosos:

  • Não contraindica doação!
  • Se infecção em tratamento com boa resposta ou infecção tratada: pode doar;
  • Coletar culturas sempre que houver suspeita de infecção;
  • Manter ou iniciar antibioticoterapia apropriada se houver indicação clínica.
  • Todos os casos de infecção devem ser avaliados pela equipe da Central de Transplantes.

Cuidados com as córneas:

  • Colírios e pomadas podem ser usados, mas não são indicações obrigatórias;
  • Manter as pálpebras fechadas e protegidas com gazes umedecidas com solução isotônica.

Órgãos específicos

Rim

  • Manter estabilidade hemodinâmica, diurese >1 ml/Kg/h;
  • Manter o paciente normovolêmico;
  • Dosar creatinina a cada 24h;
  • Não contraindicar doação por valor isolado de creatinina. Avaliar caso a caso.

Fígado

  • Sódio, potássio e glicemia cada 6h;
  • TGP/TGO/ bilirrubinas e TAP a cada 24 horas;
  • Manter sódio sérico<160 mEq/l;
  • Não contraindicar em Hepatite B/C (órgãos expandidos)

Coração

  • Idealmente realizar ECG, ecocardiograma e dosar enzimas cardíacas;
  • Pacientes acima de 45 anos, necessitam de cateterismo cardíaco.

Pulmão:

  • Oxímetro contínuo;
  • Gasometria arterial 6/6h;
  • Rx cada 24 horas;
  • SatO2>95%, pO2>90mmHg;
  • Aspiração vias aéreas, cabeceira 30°, pressão de cuff de 20-30cmH2O

Vídeo explicativo:

Referências

Este texto é extraído do MANUAL PARA NOTIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO DE MORTE ENCEFÁLICA E MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR DE ÓRGÃOS E TECIDOS, 4ª edição, 2023. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Sistema Estadual de Transplantes. Acessado em 24/02/2024

https://www.paranatransplantes.pr.gov.br/