Protocolo de Desmame de Ventilação Mecânica e Extubação

1. Critérios para Iniciar o Desmame

Antes de iniciar o desmame da ventilação mecânica, o paciente deve atender aos seguintes critérios:

  • Estabilidade Hemodinâmica: Ausência de vasopressores ou em dose mínima.
  • Oximetria de Pulso (SpO2): ≥ 90% com FiO2 ≤ 0,4 e PEEP ≤ 5 cmH2O.
  • Índice de Respiração Rápida e Superficial (IRRS): < 105 (FR/Vt em L).
  • Provas Clínicas de Melhora: Redução ou resolução da condição que levou à ventilação mecânica.
  • pH Arterial: ≥ 7,35.
  • Força Muscular Adequada: Capacidade de gerar pressão inspiratória negativa (PImax) < -20 cmH2O.
  • Estado Neurológico: Nível de consciência suficiente para proteger as vias aéreas.

2. Fases do Desmame

Fase 1: Avaliação da Prontidão

  • Avaliação diária dos critérios de desmame.
  • Realizar teste de respiração espontânea (TRE) por 30-120 minutos com tubo T, CPAP ou ventilação com pressão de suporte mínima.

Fase 2: Teste de Respiração Espontânea (TRE)

  • Monitorar parâmetros respiratórios e hemodinâmicos durante o TRE.
  • Considerar sucesso do TRE se o paciente mantiver:
    • FR < 35 ipm.
    • SpO2 ≥ 90% com FiO2 ≤ 0,4.
    • Pressão arterial estável.
    • Ausência de uso excessivo dos músculos acessórios.
    • Conforto respiratório subjetivo.

Fase 3: Cuff Leak Test (Teste de Vazamento do Cuff)

  • Indicado para avaliar o risco de obstrução das vias aéreas superiores pós-extubação.
  • Procedimento:
    • Antes de realizar o teste, realizar a aspiração das secreções traqueais e orais e ajustar o ventilador para o modo assisto-controlado em VCV.
    • Com o cuff inflado, registrar o volume corrente inspiratório e expiratório, observando se eles são similares, conforme o programado.
    • Esvaziar o cuff do tubo endotraqueal.
    • Observar e registrar o volume corrente expirado(VCe) durante seis ciclos respiratórios, observar que o VCe irá atingir um platô após poucos ciclos.
    • Comparar o VCe com o VCi programado.
    • Adequado/positivo: se a diferença for maior do que 10%, ou seja, indica que não há obstrução nas vias aéreas.

Fase 4: Extubação

  • Se o TRE for bem-sucedido e o cuff leak test indicar um risco baixo de obstrução das vias aéreas superiores, avaliar os critérios de extubação:
    • Reflexo de deglutição adequado.
    • Capacidade de tosse eficaz.
    • Nível de consciência adequado para proteger as vias aéreas.
  • Procedimento de extubação:
    • Elevar a cabeceira do leito.
    • Aspiração de secreções da traqueia e da cavidade oral.
    • Administrar O2 suplementar.
    • Retirar o tubo endotraqueal de forma segura.

Se TRE for Mal-Sucedido e o Cuff Leak Test Indicar Alto Risco de Obstrução das Vias Aéreas

  • Administrar Corticosteroides:
    • Medicações: Dexametasona, Metilprednisolona, Hidrocortisona.
    • Doses:
      • Dexametasona: 4-8 mg intravenosa a cada 6 horas.
      • Metilprednisolona: 40-60 mg intravenosa a cada 6 horas.
      • Hidrocortisona: 100 mg intravenosa a cada 6 horas.
    • Duração: Iniciar 24 horas antes da próxima tentativa de extubação.
  • Reavaliar: Após 24 horas de corticoterapia, realizar novo cuff leak test e TRE.

3. Manejo Pós-Extubação

  • Monitorar o paciente quanto a sinais de desconforto respiratório, hipoxemia e obstrução das vias aéreas.
  • Considerar o uso de oxigênio suplementar ou CPAP/NIV se necessário.

4. Traqueostomia

  • Indicações para traqueostomia incluem:
    • Falha no desmame após múltiplas tentativas.
    • Necessidade de ventilação mecânica prolongada (> 14 dias).
    • Proteção de vias aéreas em pacientes com comprometimento neurológico grave.
    • Facilidade de manejo de secreções pulmonares.
  • Avaliar os critérios clínicos e discutir com a equipe multidisciplinar e família antes de proceder.

5. Monitoramento e Ajustes

  • Realizar gasometria arterial após 30 minutos e a cada 6-12 horas após a extubação.
  • Monitorar parâmetros vitais, saturação de oxigênio e sinais de insuficiência respiratória.
  • Ajustar terapia conforme necessário com base na resposta clínica do paciente.