Protocolo de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) – UTI Adulto

1. Identificação e Avaliação Inicial

  1. Avaliação da Responsividade: Toque e chame o paciente pelo nome. Se não houver resposta, prossiga.
  2. Verificação de Pulso e Respiração: Verifique simultaneamente a presença de pulso central (carotídeo ou femoral) e a respiração.

2. Início da RCP

  1. Compressões Torácicas:
    • Posicionamento das Mãos: Coloque a base de uma mão no centro do peito do paciente (linha intermamilar) e a outra mão sobre a primeira, entrelaçando os dedos.
    • Técnica de Compressão: Comprimir o tórax a uma profundidade de pelo menos 5 cm, mas não mais que 6 cm, a uma taxa de 100-120 compressões por minuto.
    • Permitir Reexpansão: Deixe o tórax retornar completamente entre as compressões.
  2. Ventilações:
    • Uso de AMBU: Utilize o AMBU com oxigênio suplementar para ventilar o paciente.
    • Ventilação Mecânica: Se o paciente estiver previamente conectado a um ventilador mecânico e a equipe decidir manter o uso do ventilador ao invés do AMBU, configure o ventilador com os seguintes parâmetros:
      • Modo: Pressão Controlada ou Volume Controlado.
      • Frequência Respiratória: 10 ventilações por minuto (uma ventilação a cada 6 segundos).
      • Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2): 100%.
      • Pressão de Pico Inspiratório (PIP): Ajustar para alcançar uma ventilação eficaz sem causar barotrauma (normalmente entre 20-25 cmH2O).
      • Volume Corrente (VT): Aproximadamente 6-8 mL/kg de peso corporal ideal.
      • Pressão Positiva no Final da Expiração (PEEP): Manter uma PEEP mínima, geralmente entre 5-10 cmH2O, conforme a condição do paciente.
    • Relação Compressão/Ventilação: Em situações de intubação traqueal, realize compressões contínuas com ventilações sincronizadas a cada 6 segundos (10 ventilações/minuto).

3. Acesso e Medicações

  1. Acesso Venoso: Assegure ou obtenha acesso venoso adequado (venoso periférico calibroso ou venoso central, se disponível).
  2. Medicações:
    • Epinefrina: Administrar 1 mg de epinefrina IV/IO a cada 3-5 minutos durante a parada.
    • Amiodarona: Administrar 300 mg IV/IO em bolus para fibrilação ventricular (FV) ou taquicardia ventricular sem pulso (TV), seguido de uma dose adicional de 150 mg se necessário.

4. Monitorização Avançada

  1. Monitoração do Ritmo: Utilizar monitor cardíaco para identificar ritmos chocáveis (FV/TV) e não-chocáveis (atividade elétrica sem pulso [AESP] e assistolia).
  2. Uso do Desfibrilador:
    • Choque Elétrico: Aplicar choque de 200 joules (bifásico) ou 360 joules (monofásico) para ritmos chocáveis.
    • Continuação da RCP: Continuar a RCP imediatamente após o choque, sem checar o ritmo ou pulso até completar 2 minutos de compressões.

5. Ciclos de RCP

  1. Estrutura dos Ciclos:
    • Cada ciclo de RCP deve durar 2 minutos, seguido por uma análise rápida do ritmo e, se indicado, um choque com desfibrilador.
    • Durante esses 2 minutos, manter a sequência de 30 compressões torácicas seguidas por 2 ventilações, ou compressões contínuas com ventilações sincronizadas se o paciente estiver intubado.
  2. Número de Ciclos:
    • Reavaliação a Cada 2 Minutos: Após cada ciclo de 2 minutos, reavaliar o ritmo cardíaco e o pulso.
    • Tempo Total de RCP: Continuar as manobras de RCP por pelo menos 20 minutos ou até a chegada de sinais de retorno da circulação espontânea (ROSC).

6. Cuidados Pós-Ressuscitação

  1. Estabilização Hemodinâmica:
    • Pressão Arterial Média (PAM): Manter PAM ≥ 65 mmHg.
    • Uso de Vasopressores: Administrar norepinefrina ou outros agentes vasopressores conforme necessário.
  2. Oxigenação e Ventilação:
    • Saturação de Oxigênio: Manter SpO2 entre 94-98%.
    • Ventilação Mecânica: Ajustar parâmetros ventilatórios para manter normocapnia (PaCO2 35-45 mmHg).
  3. Avaliação Neurológica:
    • Controle de Temperatura: Considerar controle direcionado de temperatura (32-36°C) por pelo menos 24 horas.
    • Monitorização Neurológica: Realizar avaliação neurológica contínua e exames adicionais conforme indicado.
  4. Investigações Diagnósticas:
    • Obtenção de Culturas: Hemoculturas, uroculturas, culturas de secreção traqueal e outros sítios possíveis.
    • Exames Laboratoriais: Avaliar eletrólitos, gasometria arterial, lactato, função renal e hepática.
    • Imagem: Realizar exames de imagem (radiografia de tórax, tomografia computadorizada) conforme necessário.

Considerações Especiais

  • Choque Séptico: Em pacientes com choque séptico, seguir as diretrizes de manejo de sepse grave, incluindo administração de antibióticos e fluidos.
  • Controle Glicêmico: Manter glicemia entre 140-180 mg/dL.
  • Continuidade do Cuidado: Garantir a transição adequada de cuidados entre a equipe de emergência e a equipe de UTI.